Acredito que viajar abra horizontes em nossa vida, mas nem sempre é divertido. Às vezes é difícil, doloroso, angustiante, assim como a maioria das coisas que transformam a gente, né? É por isso que não podemos fechar os olhos para tudo aquilo que existiu no passado.
Como filha de um professor de história e sabendo que esse é o tipo de experiência transformadora, eu não poderia não colocar como um destino os campos de concentração nazistas. Quero sair do livros de historia e partir para a coisa real, ao vivo e em cores.
Antes de qualquer coisa, visitar um campo de concentração pode ser tão importante e histórico quanto ir a qualquer castelo ou museu, só que as características de beleza que sempre preferimos ver numa viagem, lá são substituídas pelo horror e uma pergunta que não sai da cabeça: “Como algo assim pode ter existido?”..
Hoje vou citar dois campos específicos da Alemanha. O primeiro é Dachou e o segundo é Saschsenhausen.
Dachau foi o primeiro campo de concentração da Alemanha e modelo para os demais campos construídos durante a 2ª Guerra.
Por ser o primeiro de todos, foi essencialmente um campo de trabalho forçado, primeiramente para receber prisioneiros políticos e depois todos os que não estavam “em conformidade” com as práticas nazistas, como comunistas, ciganos, deficientes físicos e mentais, homossexuais, Testemunhas de Jeová, afro-germanos e judeus. Ainda que o “objetivo” lá fosse o aprisionamento e trabalho forçado, milhares e milhares de pessoas morreram, seja pelas condições precárias de saúde (fome, epidemias), seja assassinatos, experimentos científicos, etc. Ainda que tenha sido construída uma câmara de gás em Dachau, não há provas que tenha sido usada, ao contrario de campos de extermínio como Auschwitz, na Polônia.
Planejado pra 6 mil prisioneiros, o campo ficou cada vez mais lotado com o passar dos anos. Quando o lugar foi liberado pelas tropas americanas, 30 mil pessoas se espremiam nas instalações totalmente precárias.
A visita ao campo de concentração de Dachau é um mergulho na parte mais triste e sombria da história da Alemanha. Durante a visita, é possível conhecer toda a história do campo de concentração, como viviam e eram tratados os prisioneiros, depoimentos de sobreviventes, textos e vários objetos da época. Um memorial judeu, além de templos pertencentes a outras religiões, também foi instalado com o intuito de homenagear aqueles que padeceram no local.
Saschsenhausen ficou ativo de 1936 a 1945. Devido à localização estratégica pertinho de Berlim, o Saschsenhausen era um dos mais importantes e abrigava o “centro administrativo” pra todo o sistema de horror que os nazistas criaram, capilarizado pelos territórios sob domínio de Hitler.
Ele e seus subcampos mantiveram presas cerca de 200 mil pessoas, que eram submetidas a trabalho forçado e viviam em condições totalmente desumanas. Dezenas de milhares morreram em consequência de doenças, desnutrição, tortura, execuções e experimentos médicos absurdamente brutais, e muitas delas foram transportadas de lá pras câmaras de gás de Auschwitz.
E mesmo depois da ocupação de Berlim Oriental pelas forças Soviéticas essa história terrível não acabou: os soviéticos usaram o lugar pra se pintar de “heróis antinazistas”, mas usaram o espaço entre 1945 e 1950 como prisão, mantendo cerca de 60 mil pessoas também em condições desumanas. Entre elas estavam oficiais alemães transferidos dos campos aliados e anticomunistas.
As visitas são gratuitas, mas dá para alugar um em alemão, inglês, espanhol, francês, holandês e italiano. Existem por lá vários painéis com texto, mas no audioguia tem horas e horas de conteúdo muito interessante, incluindo depoimentos de pessoas que sobreviveram ao campo. Também existem visitas guiadas oferecidas pelo próprio museu e por outras empresas.
No Comments