Olá leitores! Como estão?
Hoje, a nossa entrevista é com o autor Dhyan Shanasa. Dhyan, nasceu em Goiânia, Goiás. Passou grande parte da infância no sul do país, indo em seguida para Penedo, sul do estado do Rio de Janeiro, nos sopés do Pico das Agulhas Negras, onde passou toda a adolescência e começou a escrever. Dedicou-se por muito tempo a arte da tecelagem indígena e a Meditação. Atualmente vive em Pirenópolis, Goiás, onde trabalha no terceiro e último livro da Trilogia de O Livro Tunes. Confiram as respostas super interessantes desta entrevista! (Já tem resenha, aqui)
1- Se fosse definir o Dhyan com personagens já existentes, quem seria?
Essa é uma pergunta capciosa. Confesso que jamais parei pra pensar sobre isso, pois geralmente quando lemos sempre nos enxergamos nos personagens lidos. Contudo, forçosamente, admito que há muito de mim no personagem Tunes de meu próprio livro; e seria estranho se fosse diferente. Mesmo assim, ele não me define, já que é apenas um fragmento do que sou.
2- Como surgiu a idéia para escrever O Livro de Tunes? Você teve alguma inspiração ou influencia?
Curiosamente, quando tive a ideia de escrever Alta-Fantasia já havia lido muita coisa em aspectos clássicos. Contudo, meu gatilho foi O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, pois além de gostar muito do gênero, impressionou-me pela complexidade da obra. Inicialmente, comecei a escrever movido por um instinto consciente de afrontar Tolkien – muita pretensão, bem sei -, pois percebi que o que ele fazia em seus textos não era de todo impossível, e estava longe de ser genial. Seguindo a linha de raciocínio dele, simplesmente estudei as raízes de várias mitologias, línguas e etc., e criei a minha própria. Até aí, nada inovador. Nos primeiros anos de escrita a obra que eu conduzia era um compendio de oito livros, cuja parte final seria o atual Livro de Tunes. Com o passar dos anos e de minhas idas e vindas, afastei-me de todo do conceito da obra de Tolkien, adquirindo o meu próprio caminho e livrando-me da afronta. Então, por influência de mestres como Victor Hugo e Balzac, passei a dar mais atenção ao aspectos humanos e menos aos aspectos míticos, cortando assim toda a conversa fiada dos livros. Isso deixou o Tunes com uma pegada mais realista, que quando mesclada ao gênero fantástico, fez dele um misto de Fantasia Moderna com Romance do século XVIII.
3- Tem algum projeto futuro, mesmo que esteja no começo, que possa nos falar a respeito? E sobre a Trilogia de Tunes, tem uma data para o lançamento de “A Tríplice Guerra” e “O Sonhar”?
Não é do meu feitio arquitetar projetos. Contudo, não só de Tunes vive minha escrita, e sempre escrevo muita poesia e crônica. Tenho uma inclinação razoável a que em um futuro breve faça um livro de crônicas e outro de poesias, mas não tenho pressa. Além disso, quando terminei de escrever o Volume I de Tunes – Destino -, acabei iniciando outra obra enquanto descansava. É o que diz o ditado Zen “Descanse de um trabalho fazendo outro”, e desta forma, antes de iniciar o Volume II – A Tríplice Guerra, acabei esbarrando noutra e que já está há dois anos sendo desenvolvida. O que posso falar deste novo livro é que ele é diametralmente oposto a Trilogia de Tunes, passando-se num futuro distante e fugindo do gênero Alta-Fantasia. Sobre o lançamento do Volume II, é sempre um mistério. O Livro I teve o lançamento atrasado por meses; o Livro II segue o mesmo curso, mas não deve tardar. Já o Livro III – O Sonhar -, ainda está em fase de escrita, por isso nem falarei dele. Enquanto isso, a Edição Escura do Volume I já está disponível pra quem gosta de colecionar capas alternativas.
4- Se pudesse apresentar seu livro a algum escritor (a), para quem seria? Por quê?
Francamente? Sei da capacidade que tenho ao escrever, mas não ousaria mostrar O Livro de Tunes a sujeitos como Balzac. Certamente ele riria da minha cara e diria: “Mas o quê? É isso que uma década de escrita produziram?! Não seja tolo!”. Mesmo assim, já que a ideia é apontar algum escritor, mostraria para Machado de Assis, pois é nosso maior mestre e poderia me dar uns tapas para me acrescentar algo.
5- Tem algum fato marcante de sua carreira de escritor que você se recorda e poderia compartilhar com os leitores do blog?
Sim, tenho. Certa vez uma leitora adquiriu O Livro de Tunes pelo Skoob. Era uma menina um tanto quanto simpática, e pediu-me que fizesse uma dedicatória e essas coisas. E eu o fiz. Contudo, ao receber o livro seu noivo leu a dedicatória e teve um ataque de ciúmes, o que, diga-se de passagem, foi ridículo. Esta leitora mandou-me um email depois, culpando-me do quase termino de seu namoro e contando-me o ocorrido, relatando-me de forma parca que seu noivo havia queimado o livro após o incidente. O que fiz foi lembrá-la de que a dedicatória era inteiramente impessoal, e que o sujeito que ela namorava era um idiota. Creio que isso tenha sido a situação mais cômica até hoje, mas outras virão, bem sei.
6- Os personagens do seu livro foram baseados em alguém, ou apenas um fruto do acaso?
Acaso não existe. Tudo que escrevemos é baseado em nossas experiências e, por conseqüência, tem nosso reflexo. Deste modo, dentro do Livro de Tunes há muitas caras amigas, outras nem tanto, que fazem ou fizeram parte de minha vida. Não que eu tenha feito de um colega chato um vilão no livro; não é assim, mas sei de personagens que possuem a beleza ou a fealdade das pessoas que me cercam. Falar diretamente deles seria injusto, por isso deixemos aos próprios leitores que me conhecem deduzir quem é quem, se é que o podem fazer.
7- Qual o livro você gostaria de ter escrito e por quê?
Fizeram-me esta pergunta algumas vezes, e a resposta é, e sempre será, a mesma: Os Trabalhadores do Mar. O motivo é por nesta obra haver todo o engenho possível e impossível de um escritor latejando em cada palavra. Foi o último livro de Victor Hugo, já escrito em seu exílio na ilha de Guernesey, um canto esquecido da velha Normandia, e onde ele provou ser o maior de todos os mestres. Os Trabalhadores do Mar é um livro assombroso em sua composição pitoresca e em sua simplicidade. É, ao mesmo tempo, épico e simplório, e trata da vida de Guilliat, um marinheiro tacanho que vivia naquela ilhota. O que Victor Hugo faz com este enredo simples, é assustador. Certamente, nada supera este livro e seu em minhas obras eu atingir 1 décimo desta capacidade, morrerei completo.
8- Qual o melhor e o pior da literatura nacional hoje?
Costumo dizer que nossa literatura nacional de hoje está decrépita. Não estou generalizando toda a coisa, mas em suma seria isso. Os leitores podem ficar ofendidos, e os autores certamente me chamarão de arrogante, mas isso não é da minha conta. Deve haver em algum canto deste país alguém que trate a literatura com o respeito que esta arte merece, mas se este sujeito existe está muito bem escondido, pois o que nos é apresentado a torto e a direito é um espetáculo digno de pena. Sinceramente, o melhor de nossa literatura ainda é Machado de Assis, Rubem Braga, Clarice Lispector e toda essa gente do século passado – que nem são tantos assim -, e que deveriam ser apreciados e estudados com afinco pelos pretensos escritores de nossa medíocre época. O pior de nossa literatura é justamente a de Fantasia, pois banalizou-se a um ponto tão horrendo que faltam-me dedos na mão para enumerar os nomes dos livros e escritores. Contudo, o que espanta-me de fato não são os escritores fracos da atualidade – em todas os tempos tivemos esses melindrosos que se passam por artistas -, são os leitores que perdem, dia após dia, a capacidade observadora e crítica. Uma literatura fraca é tão somente existente por haverem leitores fracos. Um só existe com a ajuda do outro. Tendo os olhos humanos deixado de apreciar a beleza do que é escrito, logo qualquer amontoado de palavras é tido como obra-prima e colocado no pedestal mais alto. Mas isso não é um luxo dos brasileiros, é bom que se diga…
9- “Seu livro é sobre ‘alta fantasia”, já pensou em escrever outro gênero? Qual seria?
O motivo de eu escrever Alta-Fantasia é por ter iniciado em minha adolescência o Tunes, e ter o compromisso comigo mesmo de terminá-lo. Não se pode parar algo pela metade; deve-se ir até o fim. Todavia, tenho uma inclinação maior para romances do que para a fantasia; prefiro tratar da realidade das coisas do que mascará-la com véus míticos. Certamente ao terminar A Trilogia de Tunes pegarei outro rumo. Veremos no que dá.
10- Você acredita que o hábito de leitura é algo que pode ser introduzido pelos pais desde cedo ou isso depende de cada um? Que livros as crianças deveriam ler logo na infância que em sua opinião estimulariam este gosto pela leitura?
O mundo Ocidental é uma piada. Nossos métodos de ensino são uma piada. Nossa sociedade é um grande e colossal fracasso. À parte disso, continuamos a equivocar-nos em muitos aspectos, e a leitura na infância é um dos maiores. Uma criança é instruída desde cedo de forma totalmente torta. Não entrarei em detalhes sobre isso, pois não é minha alçada, mas não precisa ser muito esperto pra constatar o que digo; basta olhar ao redor. Em meu tempo de escola, jamais ouvi falar em Victor Hugo, Balzac ou Sthendal, e o pouco que me disseram sobre Machado de Assis chega a ser um insulto pela importância que ele tem para nossa literatura. Obviamente, uma criança não pode, nem deve, ler muito cedo, pois isso desestimula seu lado criativo e natural, dando-lhe uma parte racional que não é necessária na infância. Contos de Fadas, apesar de batidos, são ótimos para uma determinada idade, pois trabalham com arquétipos fundamentais de nossa psique, e isso mexe com um lado inconsciente e traz ótimos resultados que numa idade mais à frente serão vistas. Já na adolescência, os ditos pedagogos deveriam introduzir de forma mais graciosa a boa literatura que possuímos, pois ela é vasta, mas mal aplicada. Enfiar goela abaixo obras e mais obras por puro capricho educacional traumatiza a todos e gera um preconceito praticamente incurável nas pessoas. Digo isso, pois eu mesmo tive birra com Machado de Assis por ter sido obrigado a lê-lo, e nada, quando feito por obrigação, gera bons frutos. Assim, imagino que se nossos excelentíssimos professores fossem mais espertos, tratariam rapidamente de instruir nossas crianças de forma mais interessante e, quem sabe assim, deixemos de ser uma cultura tão obtusa e discrepante.
11- O que você acha do crescimento dos blogs literários e de todo esse universo que cada vez mais se fortalece em torno da literatura no Brasil? O país esta lendo mais? O que pode melhorar ainda?
Acho bom que as pessoas leiam mais, mesmo que não seja boa literatura. Quando se trabalha este lado, mais dia menos dia, alguns se salvam. Os blogs certamente têm grande poder de divulgação hoje em dia. Mas pela própria natureza deste poder, muitas vezes acabam “desprestando” serviço ao invés de prestá-lo. O fortalecimento da literatura nacional já existia antes dos blogs, e isso não é mérito deles. O que ocorre é que agora a coisa está mais evidente e agressiva, e isso cria a falsa ilusão de que antes não havia ninguém escrevendo. Pelo contrário, talvez antes houvessem pessoas mais aptas do que há agora, pois o excesso de informação está desvirtuado a todos. O país está lendo como sempre leu, talvez haja mais apreciação e respeito pelos novos escritores no Brasil, mas isso não é sinônimo de que estamos com ótimos autores. É válido lembrar que em todos os meios artísticos existem níveis, e que vender muito não é sinal de gênio e sim de sucesso. O que nossos autores deveriam atinar-se o quanto antes, é que enquanto eles não aceitarem e se curvarem aos mestres desta área, não serão legitimados. E quando digo isso quero dizer: eduquem-se. Antes de escrever, leiam aqueles que deram a vida pela escrita. Educar-se numa arte é estudar aqueles que a moldaram por séculos.
12- Quem foi a primeira pessoa que leu seu livro? E para quem foi o primeiro autografo?
Foi Isabella, uma pessoinha especial em minha vida e que na época era minha namorada. O Volume I de Tunes é dedicado a ela, pois foi parte essencial do processo de reescrita da obra. Foi minha forma de homenageá-la. O primeiro autógrafo, obviamente, foi dela também(risos).
13- Obrigada Dhyan, gostaria de deixar alguma dica ou comentário para os leitores do blog?
Primeiramente, agradeço a você, Milca, pela entrevista. E para os leitores apenas digo que leiam sempre e sempre. A leitura abre nossas percepções e faz com que sejamos mais alerta sobre a realidade das coisas.
10 Comments
Ju
22/04/2011 at 19:33Huuum, bem interessante esse bate papo, embora bastante polemico também. Você realmente acha que a literatura nacional é uma porcaria??
Não sei você mas, os últimos livros nacionais que tive a oportunidade de ler, foram impressionantes!
De um todo, gostei da entrevista
Mari
22/04/2011 at 19:41Pois é, cheguei na mesma conclusão que a Ju. Eu estou curtindo muito a literatura nacional.
Que tipo de livro vc indicaria??
Ahnn, achei fofinho o fato do seu primeiro autografo ter sido para a namoradinha :19
O Blog está cada vez melhor Mi, te admiro muito amiga e sinto muito a sua falta!
Beiijinhos :01 :01 :01
Lis
22/04/2011 at 20:20Gostei da entrevista, só que não concordo com a ideia de que a literatura nacional é uma porcaria, eu ando lendo muitos livros nacionais e não tenho me decepcionado.
Achei o Dhyan bem transparente nas respostas.
beijo
Hiro Manju
23/04/2011 at 14:12Tanto pelo enredo, como pelo roteiro principalmente, a literatura atual é muito fraca, escritores não escrevem por ser escritores, e sim pra se provar para os outros, mostrar que tem capacidade, isso não é nem muito fraco, é medíocre, os escritores querem se afirmar, como agora a moda é essa.
Raphaela
26/04/2011 at 10:13Realmente, entrevista polemica! hehehe
Bom… esse ano li varios livros nacionais e adorei a maioria deles… acho que é uma questao de gosto.. eu nao sou obrigada a ler apenas classicos e muito menos gostar deles. Alias… eu leio pra relaxar, viajar na historia, me divertir, então, penso eu, que tenho ler apenas coisas que eu goste hehee 🙂
Enfim.. gostei da entrevista, mas como falei antes, acho que é td uma questao de gosto ^^
Obs: que namorado maluca aquele né:?!
Beijos
Rapha – Doce Encanto
Raphaela Postou em seu blog recentemente…FAZENDO MEU FILME 01 – A ESTREIA DE FANI- de Paula Pimenta
Adrianisia
27/04/2011 at 19:12Gostei, não conhecia o autor. Bjo
Dri
Mare Soares ;
30/04/2011 at 14:31Preciso comentar 8D
Eu não gostei da forma como ele falou sobre a literatura nacional, achei arrogante. Mas concordo com a opinião.
Os melhores da literatura nacional ainda são os autores clássicos, não por sua forma erudita – acho isso besteira – mas por desenvolverem questões e personagens complexos. Nós precisamos de personagens bem construídos. E não vejo isso acontecendo na maioria dos livros nacionais novos que venho lendo.
Enfim, não vou me prolongar sobre o assunto, mas acho que o que ele quis dizer foi mais ou menos isso também.
bjoos
Pri, a bookaholic
01/05/2011 at 20:14Eh… Dhyan, sempre Dhyan kkkk
Mas adorei a entrevista! \o/ Só que sou suspeita, sou fã da blogueira e do entrevistado XD
E vou me reservar ao direito de não comentar sobre o tema kkkk Beijinhos :19
Pri, a bookaholic Postou em seu blog recentemente…Coluna das Gêmeas 21 – Trabalho
Et Coetra – Sobre livros, resenhas e as demais coisas » Blog Archive » Links da Semana #2
01/05/2011 at 21:26[…] Entrevista Dhyan Shanasa […]
Luks Vieira
05/11/2011 at 23:43Adorei a entrevista, parabéns!!!
Att.,
Luks